A educação como fonte de liberdade religiosa

Nov 3, 2025

Vivemos num mundo cada vez mais dominado pela imposição de uma monocultura em que a tolerância e o respeito têm-se esgotado em si mesmos. Queremos que todas e todos sejam iguais e se subjuguem às forças políticas e religiosas de cada Nação, não existindo respeito pelas liberdades individuais.
Foto Teresa

Com a ascensão de fenómenos totalitaristas e guerras ‘jihadistas’ percebemos que os dados científicos e estatísticos evidenciam como a liberdade religiosa está a ser ameaçada diariamente, um pouco por todo o mundo. Enquanto líder de diferentes Instituições de Ensino no Continente Europeu e Africano, acredito, profundamente, que a compreensão entre os povos nasce, antes de tudo, através da Educação.

O “Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo 2025” expõe uma realidade alarmante: a liberdade religiosa está em declínio em praticamente todos os continentes.

Em Moçambique, por exemplo, os ataques terroristas têm crescido, especialmente na região de Cabo Delgado e no extremo norte do país, onde milhares de Cristãos e Animistas foram mortos e mais de um milhão de pessoas foram deslocadas nos últimos cinco anos. Igrejas queimadas e Comunidades inteiras destruídas.

Esta crise, como tantas outras, é antes de tudo uma crise de valores. É urgente compreender que a religião deve ser um elo de união e de força, não uma arma de dominação e de opressão.

A liberdade religiosa é um Direito Humano Universal, consagrado no Artigo 18.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e deve ser protegida com a mesma veemência com que defendemos a liberdade de expressão ou de pensamento.

Mas afinal, o que é a liberdade religiosa? “compreende a liberdade de mudar de religião ou de crença, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou crença, individualmente ou em comunidade, tanto em público como em privado, pela prática, pelo culto e pelos ritos”1 (AIS, 2025).

No ano de 2021, o mesmo Relatório, colocava na linha vermelha cerca de 26 países considerando-os intolerantes no que concerne a esta liberdade que trago para discussão neste meu artigo.

Preocupante é que quando analisamos o mesmo Relatório, quatro anos depois, e nos apercebemos de que este número aumentou para os 62 países, destes, 24 são considerados como “perseguição” e 38 como “discriminação”. A verdade é que este fenómeno tem impacto na vida de mais de 5 mil milhões de pessoas.

Em 31 países a liberdade religiosa não é garantida por lei e em 34 países as pessoas não estão autorizadas a mudar de religião. Mas, podemos continuar a comprovar como a intolerância religiosa tem aumentado cada vez mais e se tem assistido a uma incitação do ódio contra minorias religiosas através das redes sociais em alguns países. A utilização da Inteligência Artificial (IA) tem contribuído para aumentar ainda mais esta guerra e os discursos, conforme expresso pelo mesmo Relatório.

Mas, voltando a Moçambique e reforçando a frase icónica de Samora Machel, cito: “é necessário fazer da escola uma base para o povo tomar o poder”. E é exatamente isso em que acredito: a escola é o alicerce da liberdade, da cidadania e da paz. Quando negamos o acesso à educação, condenamos as Sociedades ao medo, à manipulação, à intolerância e ao falhanço.

O caso de Moçambique, como o do Paquistão, o Afeganistão, o Sudão, o Burkini Faso, em Nicarágua, entre outros, são exemplos dos crimes hediondos que são cometidos contra as mulheres, vítimas de abusos, conversões e casamentos forçados, mostrando que a vulnerabilidade é ainda mais pesada quando o género e a religião se cruzam.

Nenhuma criança deve ser privada da sua infância ou do seu futuro em nome de qualquer crença religiosa. Para mim, é inconcebível, enquanto mulher, e assumidamente defensora dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Género, que situações como estas ainda possam prolongar-se no tempo.

Não podemos continuar a assistir passivamente ao crescimento dos fundamentalismos.

É tempo de investir com coragem numa educação que emancipa, que ensina a pensar e que humaniza. Quando educamos, libertamos; Quando libertamos, aproximamo-nos da paz.

Ser livre não deve ser um privilégio. Deve ser um Direito de todos os Povos.

Cabe-nos a nós, enquanto cidadãos, assegurar que este Direito nunca se desvaneça com discursos e práticas que incitam uma subversão dos ideais previstos e proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Bibliografia:
1) Consultado a 27 de outubro de 2025. Disponível em https://acninternational.org/pt-pt/religiousfreedomreport/ 

Lusa (2025, 21 de outubro). Violência religiosa provoca mais de 5 mil mortos e um milhão de deslocados em Moçambique. SIC Notícias.

Petrosillo, M., Riedmann, M., Bartelt, V. (Coord.). (2025). Liberdade Religiosa No Mundo. Fundação Aid yo the Church Need.

 

 

Artigo publicado pelo Link to Leaders a 03/11/2025.

 

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